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Fapeal em Revista apresenta: Um dia tem mesmo 24 horas?

A partir de hoje e pelas próximas semanas, publicaremos algumas das reportagens da mais recente Fapeal em Revista também em nosso site. Para começar, vamos esclarecer essas e outras perguntas que foram respondidas no estande do Observatório Nacional durante a 70ª Reunião Anual da SBPC na Ufal

Deriky Pereira

Pedro Henrique Tenório conversou com visitantes

Pare tudo o que você estiver fazendo neste momento e olhe para o seu relógio! Viu o horário? Pois é, o tempo não para. A cada segundo que passa, um minuto se aproxima e depois outro, mais outro e assim sucessivamente até que o dia, enfim, completa as suas 24 horas. Mas e se alguém te dissesse que o dia não teria, em sua totalidade, essas tradicionais e já conhecidas 24 horas das quais estamos acostumados?

Quem esclareceu essa dúvida foi o Pedro Henrique Tenório, um dos expositores do Observatório Nacional (ON), que esteve presente na 70ª Reunião Anual da SBPC no campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal): “De vez em quando é noticiado que o dia não tem 24 horas. Essa definição é bem antiga, as pessoas que desenvolveram esse raciocínio não tinham a tecnologia que temos hoje e mesmo assim deu certo, né? Nós seguimos isso até hoje e o dia continua tendo essas 24 horas úteis que costumamos dizer. Mas o movimento de rotação da terra não dura exatamente 24 horas, mas aproximadamente isso”, explicou.

Então, quantas horas teriam em um dia?

“O dia teria 23 horas, 59 minutos, 59 segundos e… Alguns quebradinhos. Essa afirmação pode ser feita quando comparada à escala baseada na rotação terrestre com a escala gerada pelos relógios atômicos.”

Mas, espera um pouco! Relógios atômicos, o que é isso? De onde vêm? Do que se alimentam?

“Os relógios atômicos têm uma base de tempo muito estável, podem adiantar ou atrasar um segundo em 10 milhões de anos. Eles são equipamentos extremamente precisos e a escala que mede o tempo de maneira independente é baseada nesses relógios – e segundo eles, o dia não teria 24 horas. Você tem a escala de tempo da rotação terrestre e a escala de tempo atômica, medidas com esses relógios pelo mundo todo. E existe uma cooperação internacional para que seja realizada essa escala. Quando a diferença entre uma escala e outra chega próximo a um segundo, para mais ou para menos, existe um evento chamado de leap seconds, onde é adicionado ou removido 1 segundo da escala de tempo atômico. Com isso, seria um dia que duraria um pouco mais ou um pouco menos, dependendo da variação entre essas duas escalas”, explicou Pedro Henrique.

Com o avanço do tempo e das tecnologias, ficou mais fácil alcançar esses resultados, por conta da medição com esses relógios atômicos, que são baseados no átomo de Césio 133 e utilizados como definição do sistema internacional.

“E esse relógio é extremamente preciso! Eles podem adiantar ou atrasar um segundo em milhões de anos. Aqui no Brasil, a gente tem, no Rio de Janeiro, uma escala composta por nove relógios de Césio e dois outros relógios atômicos, que são masers de hidrogênio, que compõem essa escala de tempo atômica e é comparada com outros países no mundo. O Brasil tem ficado na faixa de mais ou menos cinco nano segundos em relação à escala mundial e esse resultado é muito expressivo em relação aos outros países que contribuem”, destacou Pedro.

E o horário de verão, economiza energia?

Se formos pensar lá atrás, quando do seu surgimento, a resposta é não. “Isso não é novo, foi sugerido pela primeira vez em 1784 quando nem existia energia elétrica. Naquela época, durante a noite, era preciso iluminar ambientes com velas ou óleo e isso geraria uma economia muito grande. No horário de serviço não seria necessário usar tantas velas quanto se estivesse sem o horário de verão. Então, o horário de verão iria permitir aperfeiçoar a utilização desse insumo, que era destinado para iluminação na época. Acabou que a ideia não foi muito bem aceita e só foi realmente implementada na primeira guerra mundial pela Alemanha para economizar carvão. No Brasil foi adotado pela primeira vez em 1931”, explicou.

O Observatório Nacional realiza também, dentre outros serviços, a geração, conservação e disseminação de todos os fusos do Brasil: em relação ao Meridiano de Greenwich, existe o de menos duas horas, o de menos três, menos quatro e menos cinco horas. “O fuso é meio confuso”, brincou Pedro. Mas, segundo ele, durante o verão, o Brasil fica com incidência maior de irradiação solar e, consequentemente, maior quantidade de horas com exposição ao sol.

Thiago Moeda, também do ON, falou sobre sismologia.

“Para os estados que estão mais próximos do Trópico de Capricórnio, ao invés de termos por volta de onze ou doze horas de sol, passamos a ter uma quantidade de maior, por exemplo, treze horas de sol. Assim, é acrescentada uma hora no relógio desses estados mais próximos do Trópico e mais distantes da linha do equador, com isso, a população poderia aproveitar melhor a duração do dia, a incidência dessa irradiação solar”, complementou.

BÔNUS, parte 1: A sismologia em discussão

Além desses tópicos, questionamentos relacionados à sismologia também puderam ser esclarecidos no estande do Observatório Nacional, que também estuda a Geofísica. O Observatório coordena projeto de uma Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) em parceria com as Universidades de São Paulo (USP), de Brasília (UnB), a Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

“A CPRM é a financiadora desse projeto, que consiste no monitoramento contínuo de toda sismicidade do território nacional. O Brasil possui cerca de 85 estações funcionando e todos os dados registrados são enviados em tempo real para os servidores computacionais de cada instituição da RSBR. Cada estação no mapa é composta basicamente de um sensor e um registrador”, explicou Thiago Moeda, também expositor do Observatório.

Ele revelou que o sensor possui um componente vertical e dois horizontais – uma norte/sul e outra leste/oeste – e quando ele recebe a energia de algum evento – neste caso, um tremor – o sistema coloca a estação em observação. “Quando várias delas recebem em amplitude três vezes superior começa o calculo para o processamento de um evento, onde se consegue estimar certa precisão, dependendo do numero de estações que registrou aquela amplitude, a data, a hora, a latitude e longitude, a profundidade e a potência em magnitude”, completou Thiago.

Esse assunto te interessa e você quer saber mais detalhes sobre o trabalho ou entrar em contato com a equipe para relatar algum evento? Acesse o site da Rede Sismográfica Brasileira em: http://rsbr.gov.br/

BÔNUS, parte 2: O Cometa Halley e o Eclipse de 1919

Outra linha de pesquisa apresentada pela equipe do ON durante a 70ª Reunião Anual da SBPC foi a Astronomia. Por meio de fotos raríssimas, os visitantes puderam conferir, dentre outros registros, uma imagem do Cometa Halley feita em 1986 pelo doutor Carlos Veiga, pesquisador do Observatório.

Numa das imagem, era possível notar o Cometa e as estrelas em outra direção e isso se dá “porque se observa a direção [do cometa]. As estrelas, como estavam em outra direção, ficaram riscadas e esse tamanho de risco mostra o tempo que levou essa observação, que levou mais ou menos 4 minutos”, explicou o pesquisador Rodrigo Resende.

Outro importante registro apresentado foi o do Eclipse em Sobral, no Ceará, ocorrido em 1919, fato que ajudou a comprovar a Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein. Quer saber mais sobre esse assunto? Confere essa matéria especial da nossa parceira, a revista Fapesp, clicando aqui.

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