
Financiado pela Fapeal, Projeto “Periódicos Alagoas em Foco” moderniza fluxos editoriais, amplia indexações e forma equipes técnicas, em parceria com 11 periódicos
Tárcila Cabral
O fortalecimento da produção científica alagoana ganhou um novo marco, a partir de uma ação pioneira da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal). Desde setembro de 2024, o projeto “Periódicos Alagoas em Foco” vem transformando o cenário das revistas acadêmicas do estado, oferecendo suporte técnico, formação e qualificação para editores e equipes editoriais.
A iniciativa, idealizada e financiada pela Fapeal, é coordenada pelo professor Ronaldo Araújo, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e conta com a participação dos bolsistas Ellen Silva, Jusmenne Jasão e Laysa Araújo.
A Fapeal convidou o coordenador a desenvolver uma ação estruturante, voltada à profissionalização da gestão editorial dos periódicos e ao fortalecimento dos editores.
O projeto partiu de um diagnóstico realista: embora Alagoas possuísse periódicos consolidados e vinculados a programas de pós-graduação, muitos ainda enfrentavam desafios estruturais, técnicos e de visibilidade.
Atualmente, onze revistas participam do projeto: “Ciência da Informação em Revista”, “Debates em Educação”, “Diversitas Journal”, “Latitude Revista”, “Revista Ciência Agrícola”, “Revista Contexto Geográfico”, “Revista Crítica Histórica”, “Revista Economia Política do Desenvolvimento”, “Revista Leitura”, “Revista Mundaú” e “Revista Lampião”.

Dez delas são vinculadas a programas de pós-graduação da Ufal e uma à Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), de perfil multidisciplinar. Todas foram contempladas no último edital de apoio à editoração e publicação de periódicos científicos da Fapeal.
“A atuação da Fapeal no fomento à editoração científica é estruturante e singular no cenário brasileiro. Enquanto outras agências se limitam a apoiar edições pontuais, a Fapeal aposta em uma política permanente de profissionalização e sustentabilidade editorial, fortalecendo a comunicação científica do estado como um todo”, explicou Ronaldo Araújo.
Diagnóstico, padronização e resultados
“Nosso trabalho começa com um diagnóstico detalhado de cada periódico e se estende até o acompanhamento do fluxo editorial. Revisamos políticas, padronizamos templates e oferecemos suporte técnico contínuo aos editores”, abordou Ellen Silva.
O impacto já é visível, pois foram criados modelos padronizados de templates adotados por todas as revistas e implantado um sistema de secretaria editorial, que auxilia editores em tarefas de avaliação de artigos, revisão, diagramação e normalização.
O serviço foi adotado por mais da metade das revistas e já realizou dezenas de atendimentos técnicos. Além disso, todas as publicações participantes estão agora indexadas em pelo menos duas novas bases de dados, como MIAR e Livre, e uma delas segue em processo de submissão às bases internacionais Scopus e SciELO.
Em termos de conteúdo e gestão, o projeto consolidou um avanço de qualidade nas políticas editoriais, que passaram a incorporar princípios de Ciência Aberta (CA), diretrizes éticas do Comitê de Ética da Publicação (COPE) e práticas de diversidade, equidade e acessibilidade (IDEIA).
As revistas também receberam suporte personalizado para adequação a editais e critérios de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com a inclusão de novas normativas sobre o uso de inteligência artificial e o depósito externo de dados de pesquisa.

Comunicação científica e protagonismo feminino
Entre as inovações do projeto, está a adoção do marketing científico digital, uma frente que tem aproximado as revistas de seus leitores e ampliado o alcance da produção acadêmica nas redes sociais.
A equipe passou a implementar estratégias de renovação visual e comunicação para seis dos onze periódicos, que tornaram a adotar identidades gráficas mais modernas e alinhadas às práticas de divulgação científica contemporâneas.
O resultado foi imediato: a Revista Leitura registrou um aumento de 167% no engajamento em sua conta do Instagram após a reformulação de sua identidade visual.
Segundo o bolsista responsável pela área de comunicação, Jusmenne Jasão, essa evolução representa um novo estágio da relação entre ciência e sociedade.
“Isso representa o avanço da comunicação científica para além do universo acadêmico, as mídias sociais, oferecendo um ambiente de informações democrático, dinâmico e versátil”, destacou ele.
O projeto também revelou dados importantes sobre desigualdades de gênero na editoração científica. A partir da análise das equipes editoriais, foi identificada uma sub-representação feminina: as mulheres correspondem a apenas 40,2% dos membros, e sua presença é ainda menor em cargos de liderança.
Paralelamente às ações de campo, o projeto tem promovido palestras e oficinas de formação voltadas às equipes editoriais, com transmissões pelo canal do Labimetrics no YouTube.
Entre os temas abordados, estão “Ciência Aberta e o Fluxo Editorial”, “Marketing Científico Digital e Periódicos Científicos” e “Novos Critérios de Avaliação Qualis CAPES”.
As atividades têm reunido especialistas de instituições como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Ufal, fortalecendo a qualificação técnica dos participantes e estimulando a troca de experiências entre diferentes áreas do conhecimento.
Um legado que consolida a ciência alagoana
Com conclusão prevista para dezembro de 2025, o projeto Periódicos Alagoas em Foco vai além dos resultados imediatos. Segundo seu coordenador, as ações criaram bases sólidas para a continuidade das melhorias e para a profissionalização das equipes editoriais.
“A iniciativa deixará uma infraestrutura permanente, com banco de pareceristas, cadastro de especialistas em revisão e tradução, padronização documental e formação continuada. É um modelo que assegura sustentabilidade e qualidade às revistas alagoanas”, frisou o pesquisador.
A Fapeal é órgão vinculado à Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti).