Reconhecimento científico impulsiona produção alagoana e contribui para políticas ambientais no Nordeste
Tárcila Cabral

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) tem impulsionado, de maneira estratégica, a consolidação da ciência produzida no estado e o fortalecimento dos programas de pós-graduação locais. Entre os resultados desses esforços está o reconhecimento de pesquisas que unem excelência acadêmica e impacto social, como a do biólogo Iran Normande, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (DIBICT), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), contemplado no Prêmio de Excelência Acadêmica da Fapeal.
Seu estudo analisou, de forma aprofundada no Brasil, como o tamanho corporal e o tipo de habitat influenciam a área de vida do peixe-boi marinho da subespécie Trichechus manatus manatus, conhecida popularmente como peixe-boi das Antilhas. Trata-se de uma das espécies de mamíferos aquáticos mais ameaçadas de extinção nas Américas, encontrada em regiões costeiras do Caribe e do Nordeste brasileiro, especialmente entre Alagoas, Ceará, Pernambuco, Rio grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Bahia.
Com metodologia de rastreamento, a pesquisa produziu dados que já podem ser utilizados como base para políticas públicas de conservação no litoral norte de Alagoas, um território de grande valor ecológico para a manutenção da espécie, mas também marcado por pressões ambientais intensas.

Conservação marinha como prioridade em Alagoas
O estudo utilizou tecnologia via GPS para monitorar e acompanhar o deslocamento de indivíduos de peixe-boi marinho. A metodologia permitiu analisar o espaço que esses animais utilizam para sobreviver e identificar fatores que influenciam sua movimentação.
“A principal motivação foi entender quanto espaço um peixe-boi precisa para suprir suas necessidades básicas, como alimentação, abrigo e reprodução. Com essas informações, é que se torna possível subsidiar políticas públicas, como a criação de novas unidades de conservação”, explicou Iran Normande.
A pesquisa identificou que peixes-boi com maior tamanho corporal tendem a utilizar áreas mais amplas, devido às suas necessidades energéticas. Além disso, animais que ocupam apenas ambientes marinhos possuem áreas de vida maiores do que aqueles que alternam entre ambientes como estuários, rios e mar.
Fomento da Fapeal e o impacto científico
Além da contribuição acadêmica, o estudo já gera efeitos práticos no campo da conservação ambiental. O pesquisador atua como analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e suas análises se encaminham para subsidiar a criação de uma nova Unidade de Conservação no litoral norte de Alagoas.
“Estas informações de requerimento espacial das espécies auxiliam especialmente no planejamento espacial marinho, através da definição de quais áreas são mais importantes de serem conservadas e quais os tamanhos mínimos para novas unidades de conservação, de forma que os recursos essenciais à conservação dos peixes-boi sejam incluídos nestes limites”, destacou o estudioso.
Ele também ressaltou que a ciência pode caminhar lado a lado com o desenvolvimento social e econômico das comunidades costeiras:
“Nossos estudos estão embasando atualmente uma proposta de criação de uma nova Unidade de Conservação no litoral norte de Alagoas, de forma a conferir mais proteção para os peixes-boi, sem, contudo, prejudicar comunidades tradicionais de pescadores artesanais”, completou ele.

Produção científica de excelência formada em Alagoas
A trajetória acadêmica de Iran Normande foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (DIBICT), que vem se consolidando como centro de referência na formação de pesquisadores e gestores na área ambiental.
“O DIBICT é muito importante para a formação de pesquisadores na área de conservação. Possui um quadro qualificado, é referência regional e tem tudo para se tornar uma referência nacional. Ele também forma gestores ambientais, como é o meu caso, possibilitando unir academia e gestão pública”, destacou o pesquisador.
Ao comentar o reconhecimento recebido no Prêmio de Excelência Acadêmica da Fapeal, o cientista reforçou o impacto desse incentivo na continuidade das pesquisas desenvolvidas no estado.
“Foi uma grande honra receber este prêmio. Ele é um grande incentivo para o desenvolvimento de pesquisa de ponta em Alagoas. Tive a alegria de ser contemplado por três anos consecutivos, e esse reconhecimento nos motiva a continuar produzindo ciência de qualidade”, afirmou ele.
Para o biólogo, chegar a esta etapa ultrapassa um contexto de reconhecimento pessoal, o prêmio simboliza a valorização de uma carreira que alia conhecimento científico, conservação ambiental e compromisso com o desenvolvimento sustentável do estado.
Saiba mais
Os recursos para o edital “Prêmio de Excelência Acadêmica” vêm do Programa Mais Ciência, Mais Futuro, uma iniciativa do Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti) e da Fapeal. Lançado em abril de 2023, o programa planeja investir R$ 200 milhões em CT&I até 2026.

